Divinas Divas
Chega aos cinemas o premiado documentário que marca a estreia da atriz Leandra Leal na direção e é um manifesto a favor da diversidade sexual.
Histórias pessoais das divas não faltam. São mais de 400 horas de material gravado e dois anos intensos de montagem para chegar no resultado completo que Leandra alcançou. Durante a coletiva de imprensa em São Paulo, ficou claro a sinergia entre as protagonistas, que completam o raciocínio da amiga e não faltam palavras para elogiar o trabalho de Leal. “Ela interage com o artista de uma maneira gentil, buscando saber o que nós queremos, para então chegarmos a um equilíbrio e ter o mais real possível na tela”, comenta Jane Di Castro .Ao contrário do que se pode pensar, o filme ficou um luxo.
Além da delicadeza e profundidade de falar sobre a intimidade emocionante de tais ícones, Leandra explora as questões culturais e político-sociais da época, trazendo o discurso de liberdade e representatividade para um cenário mais atual do que pensado. “O filme não foi idealizado para ser militante. Eu fiz porque conta a história das artistas e pela relação próxima com a minha própria trajetória”, revela Leandra ,“Porém, acho incrível que o filme tenha essa camada. Ele se torna político por promover a identificação com o público, afinal todo mundo ama, todo mundo sofre, todo mundo tem problemas com a família…”, completa.
A importância de tal conteúdo para os dias atuais é imprescindível, porque reforça a luta e as conquistas realizadas pelas divas na época. Lembrando que elas foram as primeiras travestis do país, quebraram os paradigmas, testaram os hormônios e movimentaram os teatros brasileiros. Os internacionais, então, nem se fala. Viagens de Paris à Bangkok estão no currículo. “Conquistamos muitas coisas para as futuras gerações e espero inspirar as próximas a continuar na luta diária contra o preconceito”, diz Jane.
Ao contrário do que muitos podem pensar, para Leandra Leal não é uma questão de governo, mas sim do comportamento da sociedade. “É muito louco pensar que durante a ditadura, mesmo com a censura em relação aos travestis na rua, os teatros eram cheios, havia uma recepção do público e muito trabalho”, explica a diretora. “A única coisa que não tinha era patrocínio”, brinca Rogéria, revelando que o dinheiro vinha exclusivamente da bilheteria, com apresentações lotadas com três sessões nas quintas, sábados e domingos. Leandra, portanto, enfatiza a caretice crescente nas pessoas como propagadora do preconceito. “A sociedade brasileira é intolerante e preconceituosa.
O Brasil tem um título vergonhoso do país que mais mata transsexuais no mundo”, complementa.
Os números, infelizmente, não mentem. A intolerância e os discursos de ódio não podem tomar espaço em uma sociedade democrática e com liberdade de expressão. Amor e respeito são as virtudes presentes em Divinas Divas, e devem ser propagados para todos os âmbitos da vida. Um filme sutil, com um discurso despretensiosamente maravilhoso.
Texto da entrevista exclusiva de Jane di Castro para Vogue
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